Mitos, Verdades e Orientações
A criança que está sempre doente desde que começou a escola, tem “baixa imunidade” ou é normal ficar doente quando começa na escola?
Para responder a essa pergunta, é preciso esclarecer sobre o desenvolvimento do sistema imunológico, sobre a frequência das doenças, e o que nós podemos fazer para ajudar na imunidade das crianças.
A baixa imunidade é um termo popularmente conhecido e aplicado para as crianças que estão sempre com alguma infecção, como se o sistema imunológico dela fosse deficiente de alguma forma.
Dra Juliana Bergamini é pediatra e homeopata em Jundiaí-SP, com mais de 10 anos de experiência em atendimento de crianças e suas famílias sob o olhar da homeopatia.
Formada em medicina e com residência em Pediatria pela Santa Casa de São Paulo
Título de Especialista em Homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB)
Cursando Mestrado em Saúde Coletiva, Política e Gestão em Saúde, na UNICAMP
1. Primeiros Passos: Imunidade Passiva
A reação imunológica das crianças é um processo que garante a defesa do organismo contra agentes patogênicos invasores. Desde antes do nascimento até o desenvolvimento ao longo da infância, o sistema imunológico passa por diversas fases, desempenhando um papel fundamental na saúde e no bem-estar das crianças.
Durante a gestação, os bebês recebem uma dose inicial de proteção imunológica da mãe. Os anticorpos maternos são transferidos para o feto através da placenta, proporcionando uma imunidade temporária.
A via de parto influencia na imunidade do recém-nascido, e o parto vaginal é o que mais disponibiliza uma variedade de microrganismos colonizadores, que são responsáveis por auxiliar na capacitação e melhor adequação do sistema imunológico do recém-nascido.
Nos primeiros momentos da vida, a criança é dotada de uma forma de imunidade passiva, adquirida da mãe. O leite materno, por exemplo, é uma rica fonte de anticorpos que fortalecem a resistência do bebê a diversas infecções.
O leite materno passa os anticorpos, enzimas e células imunológicas para o corpo do bebê, garantindo uma imunidade passiva contra diversos agentes. Esse período inicial é crucial para o desenvolvimento do sistema imunológico, preparando-o para a exposição gradual a uma variedade de microrganismos.
Durante a consulta, a Dra Juliana Bergamini aborda todas as questões que influenciam a imunidade da criança
2. “Baixa imunidade” ou sistema imunológico em desenvolvimento?
O sistema imunológico infantil passa por um desenvolvimento gradual. No nascimento, o bebê herda uma variedade de células imunológicas, mas sua capacidade de resposta é limitada. Com o tempo, a exposição a diferentes antígenos – substâncias que provocam uma resposta imunológica – fortalece e amadurece o sistema. A interação com germes, vírus e vacinas desempenha um papel nesse processo educativo.
Órgãos como o timo e a medula óssea são responsáveis pela produção e maturação de células do sistema imunológico, como linfócitos T e B. Essas células são responsáveis por reconhecer e atacar invasores estranhos.
Identificação de Antígenos
O primeiro passo na reação imunológica é a identificação de antígenos, que são substâncias estranhas ao corpo. As células do sistema imunológico, como os macrófagos, “engolem” os antígenos e apresentam fragmentos deles na superfície celular.
Ativação do Sistema Imunológico
Quando os antígenos são identificados, as células imunológicas, como os linfócitos T e B, entram em ação. Os linfócitos T auxiliam na destruição direta de células infectadas, enquanto os linfócitos B produzem anticorpos específicos para neutralizar os invasores.
Resposta Anticorpo-Antígeno
A interação entre os anticorpos e os antígenos desencadeia uma resposta em cadeia, levando à destruição dos patógenos. Nas crianças, essa resposta é frequentemente mais rápida do que em adultos, uma vez que o sistema imunológico está em um estado mais alerta e ágil.
Memória Imunológica
Uma das características mais notáveis do sistema imunológico é a capacidade de criar uma “memória” imunológica. Isso significa que, após a exposição a um patógeno, o sistema imunológico se lembra da ameaça e responde mais rapidamente em encontros futuros.
Vacinação: Fortalecendo a Defesa Imunológica Infantil
A vacinação desempenha um papel na memória imunológica. Ao introduzir uma forma enfraquecida ou inativa de um patógeno, as vacinas treinam o sistema imunológico a reconhecer e combater esses invasores, proporcionando uma proteção duradoura.
Imunidade Inata e Adaptativa
A imunidade inata oferece uma defesa imediata contra uma variedade de patógenos. Barreiras físicas, como a pele, e células especializadas, como os macrófagos, fazem parte dessa resposta rápida e não específica. Já a imunidade adaptativa, como o nome sugere, adapta-se ao longo do tempo, fornecendo uma defesa mais específica e duradoura.
3. Baixa imunidade, situações esperadas ou inesperadas?
Infecções respiratórias agudas
Durante a infância as infecções são frequentes, e as infecções respiratórias agudas estão entre as mais frequentes. Elas são normalmente de origem viral ou bacteriana e acometem qualquer segmento do trato respiratório (seios da face, laringe, traqueia, nariz, pulmão).
A incidência das infecções respiratórias agudas em crianças tem uma média de 4 a 6 episódios por ano. Crianças menores de 1 ano, pode haver de 6 a 8 episódios por ano. Esses números mostram que a frequência normal é alta, ou seja, dentro de um período letivo, a criança fica doente a cada 2 meses, só de infecção respiratória! Ou seja, nesse período, uma criança que está resfriada frequentemente, não apresenta baixa imunidade.
Em geral, essas infecções são de baixa gravidade, como resfriados, que não precisam de internação ou antibiótico. Apenas 2 a 3 % complicam para pneumonia e o acompanhamento da criança, com orientações sobre sinais de alerta é imprescindível.
Os principais sinais de alerta são início de desconforto respiratório, prostração, aumento súbito da febre e piora do quadro clínico, e merecem uma reavaliação médica.
A Dra Juliana Bergamini está sempre atenta aos sinais de alerta de complicações do estado de saúde da criança.
Infecções do trato urinário
As infecções do trato urinário não é tão frequente como as do trato respiratório. Acomete cerca de 3% das meninas e 1,5% dos meninos durante a infância, e a taxa de recorrência é alta. O pico de incidência é entre os 3 e 4 anos, na época de retirada das fraldas. Apresenta risco aumentado quando acomete bebês menores de 6 meses, e o cuidado médico deve ser constante, para não haver complicação. Também é importante verificar se necessita de exames mais aprofundados.
Nesse sentido, a criança que apresenta infecções urinárias recorrentes, não é necessariamente uma questão de “baixa imunidade”, mas pode apresentar alguma disfunção do trato urinário, por isso é importante aprofundar a invetigação.
Diarreias Agudas
As diarreias agudas, segundo a Organização Mundial de Saúde, é definida como a mudança do hábito intestinal caracterizada pela ocorrência de três ou mais evacuações menos consistentes ou líquidas por dia, com duração de até 14 dias.
Pode ocorrer náuseas vômitos, febre e dor abdominal, e pode ter presença de muco ou sangue. A causa pode ser vírus, bactéria ou protozoários, e o agente mais frequente é o rotavírus.
O tratamento inclui a hidratação, repouso e medicamento de acordo com a causa.
As diarréias, se persistentes, ou recorrentes e graves, podem sugerir alguma “baixa imunidade”, por isso é preciso uma investigação mais detalhada de cada caso.
Imunodeficiênicas primárias (EEI)
São distúrbios do sistema imunológico que levam a infecções, autoimunidade, processo inflamatório, doenças alérgicas e/ou tendências a malignidades. É um grupo bem heterogêneo, composto de mais de 400 doenças e relacionadas a mutações de mais de 400 genes diferentes. É um tema complexo, e sua prevalência é muito variável, girando em torno de 1 para cada 10mil pessoas, excluindo a mais comum delas, que é a deficiência de IgA.
Aqui nesse ponto, as imunodeficiênicas primárias seriam o que mais se aproxima do popularmente conhecido como “baixa imunidade”, pois se tratam de infecções de repetição, generalizadas, mas de difícil diagnóstico.
É importante salientar que infecções restritas a um sistema, como o respiratório, por exemplo, sem evidências de infecções em outros locais, sugerem causa local ou mecânica, e não imunodeficiência primária.
Os 10 sinais de alerta de erros inatos da imunidade na criança são:
- dois ou mais pneumonias no último ano
- quatro ou mais otites no último ano
- estomatites de repetição ou candidíase por mais de 2 meses
- abscesso de repetição ou ectima
- um episódio de infecção sistêmica grave
- infecções intestinais de repetição ou diarreia crônica
- asma grave, doença do colágeno ou autoimune
- efeito adverso ao BCG ou infecção por micobactéria
- fenótipo clínico sugestivo de síndrome associada à imunodeficiência
- história familiar de imunodeficiência
4. Fatores que Afetam a Reação Imunológica Infantil
Nota-se que o desenvolvimento da resposta imunológica da criança é um processo, ou seja, quando ela é pequena, o seu sistema é mais imaturo, e mais suscetível aos agentes patológicos, o que pode sugerir a “baixa imunidade”. Conforme ela cresce, fica menos doente, porque o seu sistema está mais amadurecido e já teve contato com muitos agentes, estabelecendo uma memória imunológica mais robusta.
Não existe um medicamento que aumente especificamente a imunidade da criança, o que existe são medidas que favorecem que seu sistema imunológico trabalhe com mais eficiência e amadureça de maneira saudável.
5. A contribuição da homeopatia
A homeopatia tem sido considerada por alguns pais como uma abordagem alternativa no tratamento de infecções em crianças, oferecendo uma perspectiva interessante e menos agressiva. Muitos pais recorrem à homeopatia quando querem tratar da “baixa imunidade” da criança.
Seus remédios, altamente diluídos, podem estimular o sistema imunológico da criança, promovendo uma resposta equilibrada e auxiliando na recuperação de infecções. Além disso, a individualização dos tratamentos homeopáticos, que são adaptados às características únicas de cada criança, é vista como uma vantagem, permitindo uma abordagem personalizada para fortalecer a resistência do organismo contra agentes infecciosos.
Embora a homeopatia represente uma escolha pessoal válida para alguns pais, é crucial que eles busquem a orientação de profissionais médicos homeopatas qualificados para uma abordagem informada e segura.
A Dra Juliana Bergamini é pediatra e homeopata com mais de 10 anos de experiência, graduada e com residência pela Santa Casa de São Paulo e especialista em homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB)
6. Como melhorar a “baixa imunidade”, ou, como favorecer a imunidade da criança
Diversos fatores podem influenciar a eficácia da resposta imunológica em crianças, incluindo nutrição adequada, exposição ambiental e genética. Um ambiente saudável e estimulante garante o desenvolvimento ideal do sistema imunológico.
Algumas práticas e medidas que podem apoiar a saúde e a função imunológica em crianças incluem:
- Dieta Equilibrada: Uma dieta rica em frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras fornece os nutrientes essenciais para o funcionamento adequado do sistema imunológico. Uma boa alimentação é um inimigo da “baixa imunidade”!
- Atividade Física Regular: O exercício regular é benéfico para a saúde geral e pode contribuir para o bom funcionamento do sistema imunológico.
- Boas Práticas de Higiene: Lavar as mãos regularmente, manter um ambiente limpo e adotar boas práticas de higiene são medidas importantes para prevenir infecções.
- Sono Adequado: O sono desempenha um papel importante na regulação do sistema imunológico. Certificar-se de que as crianças tenham um sono adequado é fundamental.
- Gestão do Estresse: O estresse crônico pode afetar negativamente o sistema imunológico, e “baixa imunidade”. Criar um ambiente de apoio e ensinar estratégias de enfrentamento saudáveis pode ser benéfico.
É importante notar que o uso indiscriminado de suplementos ou medicamentos para “aumentar a imunidade”, ou para diminuir a “baixa imunidade” em crianças não é recomendado sem a orientação de um profissional de saúde. O sistema imunológico é complexo, e o equilíbrio é fundamental. A automedicação ou o uso excessivo de certos suplementos podem ter efeitos adversos.
Sempre consulte um pediatra ou médico antes de iniciar qualquer regime de suplementos ou medicações, especialmente em crianças. Cada criança é única, e as necessidades de saúde podem variar. O profissional de saúde pode fornecer orientações específicas com base na condição de saúde e nas necessidades individuais da criança.
A reação imunológica infantil é um fenômeno incrivelmente complexo e adaptativo. Compreender o funcionamento desse sistema não apenas destaca a engenhosidade da natureza, mas também destaca a importância de cuidados adequados, como amamentação, vacinação e um ambiente saudável, para garantir que as crianças cresçam com uma defesa imunológica adequada.
Dra Juliana Bergamini é pediatra e homeopata em Jundiaí-SP, com mais de 10 anos de experiência em atendimento de crianças e suas famílias sob o olhar da homeopatia.
Formada em medicina e com residência em Pediatria pela Santa Casa de São Paulo
Título de Especialista em Homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB)
Cursando Mestrado em Saúde Coletiva, Política e Gestão em Saúde, na UNICAMP
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